Yellow Brickroad (Angus and Julia - parte 4 - fim)

Quando eu dormi dentro dela, eu sabia que nunca mais, depois daqueles três dias, eu a veria. Isso não significava muito, já que eu também pensei que nunca mais a veria quando me despedi dela no táxi em Paris. Marcamos o próximo encontro para o carnaval de Veneza, onde mascarados poderíamos ser quem quiséssemos.

"Você consegue dormir assim? Você é insaciável", eu disse enquanto brincava de puxar seus cabelos.
Ela não respondeu, se acomodou no travesseiro e dormiu. Eu fiquei por algum tempo repassando tudo aquilo. Pensei em como aquela doce e indócil criatura, de costas para mim, embaixo de mim, se transformava num bicho submisso quando era tocada nos acordes certos.

Ouvia a TV do quarto ao lado, que era igual ao meu, mas tão diferente. Lá o barulho era do jornal, aqui, eu e ela tentávamos acordar o hotel inteiro todas as noites e todas as manhãs. Fizemos do quarto mais um de nossos universos paralelos, cheios de memórias, fantasias e conversas que só faziam sentido para nós dois.

Mas eu tinha que voltar pra realidade e deixar ela. Ela tinha que ir embora, deixar pra trás tudo outra vez. Uma manhã ela foi. Eu fui. Entrei no avião. Portas em automático. Eu no piloto automático de novo. Li no voo o livro que ela me deu, o trecho que ela marcou. E dormi, para colocar tudo de volta em seu lugar.

O trecho que ela marcou: 

"Minha condição humana me fascina. Conheço o limite de minha existência e ignoro por que estou nesta terra, mas às vezes o pressinto. Pela experiência cotidiana, concreta e intuitiva, eu me descubro vivo para alguns homens, porque o sorriso e a felicidade deles me condicionam inteiramente, mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem emoções semelhantes às minhas."

(Albert Einstein em Como Vejo o Mundo) 

• para ler ouvindo: Angus and Julia Stone - Yellow Brickroad 

fell in love in california,

she blew my mind

she shot me down with her revolver

she got me high

...

I lost my mind long ago

down that yellow brick road